Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)
4 comentários:
Meu caro Belenâmbulo.
E pensar que em 1928, 14 anos depois da I Guerra Mundial e 16 anos depois do fim do período áureo da borracha, o mesmo Manuel Bandeira fazia versos para Belém assim:
Belém do Pará
Bembelelém
Viva Belém!
Belém do Pará porto mordeno integrado na equatorial
Beleza eterna da paisagem
Bembelelém
Viva Belém!
Cidade pomar
(Obrigou a polícia a classificar um tipo novo de deliquente:
O apedrejador de mangueiras.)
Bembelelém
Viva Belém!
Belém do Pará onde as avenidas se chamam Estradas:
Estrada de São Jerônimo
Estrada de Nazaré
Onde a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca de todas as cidades do Brasil
Se chama liricamente
Brasileiramente
Estrada do Generalíssimo Deodoro
Bembelelém
Viva Belém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.
Terra da castanha
Terra da borracha
Terra de biribá bacuri sapoti
Terra de fala cheia de nome indígena
Que a gente não sabe se é de fruta pé de pau ou ave de plumagem bonita.
Nortista gostosa
Eu quero bem.
Me obrigarás a novas saudades
Nunca mais me esquecerei do teu Largo de Sé
Com a fé maciça das duas maravilhosa igreja barrocas
E o renque ajoelhado de sobradinhos coloniais tão bonitinhos
Nunca mais me esquecerei
Das velas encarnadas
Verdes
Azuis
Da doca de Ver-o-Peso
Numa mais
E foi pra me consolar mais tarde
Que inventei esta cantiga:
Bembelelém
Viva Belém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.
Mas como nostalgia e esperança são defeitos insidiosos, melhor mesmo é encarar a realidade tal como ela é agora.
Prezado Alencar,
Que presentaço esse poema! Eu não o conhecia...
Olha, não perdi a esperança. Muito do que o poeta retratou ainda existe.
(adorei o apedrejador de mangueiras...)
Abraço
Dois poemas muito bem aplicados.
;*
que prevaleça o Bembelelém!
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