quinta-feira, 18 de março de 2010

O talentoso Rafael "artista"

"Você sabe o significado desses painéis de azulejo aí?"
"São retratos do casal que foi assassinado nessa casa. Foi meu pai quem pintou"


Assim começou meu diálogo com essa figura chamada Rafael, conhecido como "Artista" nas imediações da Presidente Vargas.
O rapaz tem 20 anos, e trabalha como flanelinha na Manoel Barata, entre a Casa do Fotógrafo e a Frei Gil ("as vagas próximas à Presidente Vargas são do Boboia"), somente aos sábados de manhã. .



Nos outros dias da semana, ele vive de dar aulas de pintura em lajota, habilidade que desenvolveu inspirado em seu pai, Ronaldo Ramos, autor dos três painéis expostos no imóvel citado anteontem. Inspirado em seu pai, porque eles não chegaram a conviver. O casamento de seus pais se desfez à época de seu nascimento, e Rafael foi criado pela mãe.
A iniciação à pintura se deu durante os sete anos que viveu em Paris. Sua mãe se casara com um imigrante vietnamita, que morava na França.
"Lá nós aprendemos pintura na escola", contou.
"Depois adaptei meu conhecimentos para a pintura em lajotas"

De seu padrasto, o "Artista" ganhou fotos inéditas da Guerra do Vietnã, que retratam a história sob a óptica do povo asiático. Ele me prometeu mostrá-las num próximo encontro.

Esse rapaz de múltiplos talentos ainda dá aulas e presta suporte em informática ("Windows, AutoCAD, os antivírus mais modernos e tudo o que você imaginar..."), pinta painéis artísticos em residências e empresas ("tem um painel de minha autoria no Hotel Hilton... pintei umas frutas no final de um corredor") e restaura fachada de imóveis antigos, ofício que vem sendo aperfeiçoado através de uma oficina a qual frequenta na Fundação Curro Velho.

"A fachada dessa casa fui eu que restaurei"
Cyber Porão Virtual, na Manoel Barata, 937

Quem se interessar pelo trabalho do "Artista" pode procurá-lo por ali, nas manhãs de sábado.
O curso de pintura em lajota custa R$ 150, e inclui três aulas em domicílio.
"E o material?"
"Não se preocupe..."


Só não entendo por que ele continua trabalhando como flanelinha...


Em tempo: procurei o tal painel no Hilton, mas não encontrei.

6 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Ele trabalha como flanelinha porque, neste país cruel, todo mundo tem que se virar, ainda mais quem decidiu ser artista.
Parabéns pelas agora duas postagens sobre o tema. Estou acompanhando com interesse, já que espero saber mais sobre o crime.

Tanto disse...

Quando for comer ali na Manoel Barata, vou dar uma caminhada e conhecer essa figura.

Francisco Rocha Junior disse...

A vida nas ruas tem muito mais coisas do que imaginamos. Parabéns pelos posts, Wagner.

Belenâmbulo disse...

Tem razão, Yúdice.

Fernando, mas ele só está lá aos sábados.

Francisco,
E é fascinante descobrir essas coisas, principalmente quando não moramos nas ruas (credo! me deu vergonha do que acabei de escrever...).

Abraços

Anônimo disse...

amigo, moro na frei gil entre manoel barata e ó de almeida e transito muito neste trecho da manoel barata, entre frei gil e presidente vargas. conheço os painéis citados na fachada do prédio, o cyber tb... bom, conheço tb td os flanelinhas deste trecho citado (são três) e confesso nunca ter visto o rapaz da foto por ali.
estranha esta história de flanelinha. mas...
abç
marton maués

Belenâmbulo disse...

Marton,
Ele disse que só fica aí aos sábados.
Mesmo assim, achei as histórias dele muito mirabolantes. Por isso fiz questão de pelo menos checar o tal painel no Hilton (que não encontrei).
A propósito, o título desta postagem foi inspirado no "Talentoso Sr. Ripley".

Abraço