Trasladação
Após duas noites maldormidas por causa do auto e da trasladação, empreguei as últimas reservas de energia e disposição para chegar à Catedral da Sé por volta das cinco da manhã de domingo. Sétimo ano morando em Belém. Primeira vez em que acompanharia a procissão desde o início. A missa já estava rolando, mas o movimento ainda era relativamente tranquilo. Resolvi aproveitar aquela oportunidade rara de perambular pelo Ver-o-Peso quase vazio, em silêncio. Precisava me alimentar para não passar mal no decorrer do dia, que prometia ser extenuante.
No caminho, encontrei pessoas mais cansadas do que eu...
...e algumas famílias estrategicamente posicionadas.
Um café-com-leite e uma tapioca resolveram meu problema imediato.
A questão agora era encontrar um bom local para fotografar.
Além da câmera, das lentes e dos rolos de filmes, eu carregava uma escada de alumínio. Um pouco desconfortável, é verdade... porém tinha muita esperança de fazer "a foto". Minha primeira tentativa foi o canto da pedra do peixe. Armei a escada, testei sua firmeza, subi, sentei-me... Foi quando, entre cochichos e risos dos soldados do exército, pude captar algo como: "isso vai dar merda..."
Por prudência, fui procurar outro local. Olhei em volta e desanimei. Intimamente, eu sabia da enorme probabilidade de aquilo "dar em merda". Mesmo assim, teimoso que sou, repeti os procedimentos na desembocadura da 15 de Novembro, bem atrás do cordão de segurança dos militares. Novamente notei algum burburinho entre eles. Logo um soldado se aproximou e, muito francamente, me pediu para sair dali.
"Seu primeiro Círio, não?"
"(como é que você sabe? me diz agora seis números, que a primeira você já acertou...)", pensei.
"Então, nós estamos aqui para proteger as pessoas, mas se você ficar aí, ainda mais em cima dessa escada, não teremos como garantir sua integridade quando o povo passar. A multidão vai nos empurrar exatamente na sua direção. Nem mesmo nós conseguiremos ficar em pé. Procure outro lugar."
Cabisbaixo e tristonho, saí pedindo arrego em cada marquise no início da Av. Portugal, até ser gentilmente acolhido na Belém Couros.
Mesmo não sendo católico, fiquei arrepiado com o que vi.
À medida que a berlinda se aproximava, a tensão nos semblantes dos soldados tornava-se evidente.
Depois que o cordão de homens se arrebenta, acabou...
Olhando o que acontecia, tive a certeza de que não sairia inteiro se permanecesse ali embaixo.
3 comentários:
sem comentarios texto e imagens impecaveis.
Lindas fotos, gosto muito desse blog e do jeito que abordas a minha cidade. No momento estou há um pouco de tempo longe e foi bom ver, sob outra perspectiva que não a de sempre como Belém é linda e rica em sua simplicidade! Parabéns! Esse post é antigo... por que tanto tempo sem uma postagem nova? Precisamos nos ver por outros olhos sempre... saudade dos posts =]
Reinaldo e C.Nrjara,
Grato pelos comentários!
Passei um ano afastado do Belenâmbulo, sem inspiração. Vamos ver se agora eu volto.
Abraços
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