Uma semana viajando a serviço.
Um feriadão para visitar a família e alguns amigos.
Um esforço concentrado para a organização de livros, fotos e arquivos de computador.
Uma ligeira sobrecarga de atividades no trabalho.
No meio disso tudo, vocês já perceberam: quem ficou para último plano foi o pobre Belenâmbulo.
Todavia, períodos conturbados geralmente são propícios para reflexões existenciais.
Até tenho algum material para ser publicado. Cheguei a esboçar novas postagens, mas desisti.
Regularidade é importante, sim. Acompanho os acessos através do StatCounter, e sei que tem gente que passa, ou passava, por aqui quase todos os dias.
No entanto, sabe quando você olha para seu blog e se abusa das mesmas coisas de sempre? Barbaridades no trânsito, lixo por todos os lados, placas engraçadinhas, patrimônio histórico abandonado, flagrantes de desrespeito às regras básicas de convivência, intercaladas por algumas paisagens consoladoras... Nada muda, embora eu me esforce para acreditar que cumpro meu papel como cidadão através dessa publicação de poucos leitores.
Cansei.
Eu mando no Belenâmbulo, e não o contrário. Precisava parar um pouco.
Preciso renovar minha motivação. Não quero que minhas postagens se transformem em bostagens. Não quero que o blog se torne mais uma obrigação em minha vida.
O Belenâmbulo nada mais é que uma entidade fictícia, nascido em 23 de outubro de 2008. Onze dias após o Círio daquele ano. Onze dias após o fim de uma união estável (aliás, nem tão estável assim, pois terminou), que durou seis anos. É isso aí: quem sustenta o Belenâmbulo é uma pessoa real, que trabalha, paga contas e tem outros interesses e afazeres. E eu devo muito ao Belenâmbulo, que me amparou durante aquela fase difícil - aliado a sessões semanais de terapia e doses diárias de alprazolam e cloridrato de duloxetina. Esse último, aliás, provocava efeitos contraditórios: se por um lado aliviava os sintomas da depressão, por outro, agravava-os novamente a cada nova caixa comprada (28 cápsulas por 160 reais).
A criação de um blog transforma nossa vida, o que, por sua vez, acaba também transformando o blog. Graças a este espaço virtual, conheci grandes pessoas, lugares e acontecimentos reais. Todas essas influências naturalmente se refletem no conteúdo publicado. Novas experiências trazem novas ideias, que conduzem a novas experiências, que trazem novas ideias, que...
Quero fotografar os lugares da Belém do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir... Quero fazer um "antes x depois", com imagens antigas da cidade... Quero contar um pouco da história de outros bairros, além da Marambaîa...
Quero tanta coisa!
E há tanta coisa interessante no mundo!
Gostaria de ter tempo para provar cada uma delas! Mas disponho apenas de uma esmola de três horas livres por dia: 24 menos 8 de sono, menos 8 de trabalho, menos 2 horas de intervalo de almoço (insuficientes para implementar os meus elevados planos de dominar o mundo), menos 3 horas dedicadas a trâmites alimentares, higiênico-sanitários, pré e pós-jornada de trabalho. E ainda assim me considero um privilegiado, pois conheço gente muito mais ocupada do que eu.
De link em link, vai-se embora um dia inteiro, e isso me angustia. Não consigo ler todos os livros que quero, nem ouvir todas as músicas, nem acompanhar todos os blogs, nem assistir a todos os vídeos. Sem falar nos lugares que nunca vou conhecer.
Minhas aspirações não cabem no tempo de que disponho. Quero fazer tudo, e acabo não fazendo nada. Não posso continuar assim.
Semana que vem faz dez anos que saí da casa de meus pais. Que fiz até agora? Três empregos e uma tentativa malograda de empreendimento individual. Mais de dez endereços, espalhados por cinco cidades. A cada mudança, móveis e objetos doados ou vendidos a preço de banana. Quatro geladeiras (três 110 volts e uma 220). A TV e o aparelho de som eu não precisei trocar porque eram bivolt. A cada mudança, novos sotaques, temperos e expressões... outros nomes de ruas, de bairros e de linhas de ônibus... Vínculos construídos e interrompidos: médicos, barbeiros, faxineiras, padarias e quitandas... Algumas poucas lambanças financeiras, e lá se vai meu já escasso patrimônio...
Quase tudo o que comecei ficou pela metade. Até quando?
No fim da manhã de sábado passado, em meio a tantas reflexões altas e nobres e lúcidas, eis que me telefona o Lafayette: "Tem um ipê-roxo em floração aqui na BR, logo depois do viaduto. Uma beleza para fotografar!"
Fui lá à tardinha, mas não rolou... O sol estava incidindo pelas costas da árvore. "Tenho de voltar aqui amanhã bem cedo".
Voltei.
15 comentários:
Linda Foto, grandes reflexões e acredite, o Belenambulo também muda, um pouquinho de cada vez, a vida de quem passa por aqui.
Grande abraço, Wagner.
Meu amigo, essas reflexões são importantes para a nossa vida. E acho que, pelo teu tom, estás indo muito bem.
Só posso te dizer que o Belenâmbulo se tornou uma referência para a blogosfera local e temos grande prazer em ler as tuas postagens, mesmo que elas tratem de lixo espalhado, piadinhas, etc. Porque não é apenas o assunto, mas a forma como ele é abordado. E nós gostamos do teu estilo, da tua verve.
Abraços, Wagner. Tomara que estejas sempre por aqui.
Benvenuto! Welcome! Willkomen! Bienvenido! Accueil! Bun venit! Benvinguda! Velkommen! E seja Benvindo de volta em todas linguas, de todos os países que queira conheçar! Persiga seus sonhos, seja insistente e nunca, mas nunca, mas nem com todas os medicamentos antidepressivos do mundo no cabeção, esqueça de Deus.
Um grande abraço.
Gosto demais da maneira como escreves sobre a cidade , seus problemas, o dia a dia , e até mesmo a poesia...Tô em macapá, e mato as saudades da minha cidade aqui !
Maravilhosa a foto, assim como maravilhosa é a postagem. Adoro quando desembestas a escrever, pois sempre é bom ver alguém que escreva tão bem assim. És uma pessoa boa, das melhores, e teu texto só veio confirmar isso. Parabéns pela reflexão e pela coragem de postá-la.
O Belenâmbulo é uma referência para mim, recém chegada na cidade. Ele reflete com bom humor as tragédias de uma cidade que aprendi a amar. Como cantam Os Originais do Samba: "O que dá pra rir dá pra chorar questão só de peso e medida, problema de hora e lugar, mas tudo são coisas da vida!" Continue com o seu trabalho inspirador!
Linda a forma como epões dramas que às vezes parecem doer mais, se acumulados.
Aqui venho sempre. Teu olhar de fora me faz conhecer melhor onde nasci e me criei. De fato, me sinto meio Belenâmbula.
Bjs
Camilla Delduque
Pessoal,
Agradeço demais por todos os comentários. Uma verdadeira injeção de ânimo. O blog continua. Só não esperem a regularidade de uma linha de produção.
Abraços
Linha de produção remete a fábrica, coisa por demais sacal. Continua com teu trabalho de artesão, que está bom demais.
Abração.
Wagner,
Devido a alguns afazeres, também andei um pouco ausente no acompanhamento do seu blog, mas, como sempre, eu volto e, invariavelmente, delicio-me com reflexões tão apuradas, honestas e ricas como essa. Parabéns pelo seu trabalho de "artesão", como foi muito bem colocado em outro comentário aqui. Encare seu hobby virtual exatamente dessa forma: como uma obra esculpida pouco-a-pouco, e não como um produto fabricado. Produtos são feitos para serem comprados e consumidos pela sociedade. Nós, leitores e apreciadores do bom-humor, das boas ideias e das reflexões sinceras e maduras, gostamos mesmo é de apreciar a arte expressa em suas imagens e palavras. Parabéns! Conte comigo para o que precisar. Abraços. Marcelo
Francisco e Marcelo,
Agradeço pelos comentários.
Acho que já estou conseguindo desencanar desse negócio de regularidade.
Abraços
Sem internet em casa, quando vou em algum cyber da vida, a primeira coisa que faço é procutar o teu blog. Acredite nisso, o que tu faz está virando referência pra mim.
Continue nessa pegada e vá avante.
Abraços...
Bela postagem, e belo encerramento!
A metáfora do ipê é perfeita! Só tem um dia, dois no máximo, num ano inteirinho, que é o ideal para fotografar. Somar a exuberante floração, o dia bonito...um ipê exige aptidão para "aproveitar o momento"...não deixar passar...
E esse momento perdoa um monte de coisas...
Parabéns pela postagem e pela foto. Isso que é "jornalismo verdade"!
Agradeço pela força, Jeferson!
Minha amiga Virótica!
Fico muito contente em continuar recebendo suas visitas e seus comentários. Viva a internet!
Só você para me compreender mesmo... quer ser minha terapeuta?
Abraços
Muito prazer em conhecer o blog. To adorando suas ironicas/ sinceras indagações. Muito bom!!!
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