sexta-feira, 31 de julho de 2009
Domingo na praça
Há muito, muito tempo eu não ia à Praça da República numa manhã de domingo, programa há anos definitivamente inscrito no rol das atividades tipicamente belenenses. Não há como negar isso, considerando o número assustador de pessoas transitando por lá. Mas hoje fui com a família dar um pequeno passeio. O dia estava ameno para os nossos padrões, tanto que uma teimosa nuvem de chuva acabou por nos mandar embora.
Caminhamos pela praça e pude constatar o estado lastimável em que ela se encontra. Destaco a imagem triste aqui apresentada (foto de celular). Apesar de que alguém já iniciou a limpeza, a maior parte do ataque continua lá, mais visível do que a própria mensagem oficial, que alude ao Presidente da República entre 23.11.1891 a 15.11.1894, Floriano Peixoto.
"Brigar p/ causas é virtude!"
Então um féla desses sai sabe-se lá de onde, agride o majestoso monumento à República, um dos mais importantes símbolos de nossa cidade, e se sai com essa: o seu vandalismo é virtuoso, porque defende uma causa.
Aliás, eu gostaria muito de saber qual a causa do vagabundo que fez essa pichação. Curiosamente, essa informação não comparece em meio a suas garatujas, justamente ela, que seria o mais importante de tudo. Ainda mais sabendo que vivemos num tempo em que a juventude não tem mais ideais e seus valores estão bastante comprometidos. Não duvido que a pichação tenha sido feita por um pilantra com uma camiseta ostentando a famosa efígie de Che Guevara, mas com os sintomáticos tênis All Star nos pés, além de acessórios metálicos comprados em alguma loja do shopping, lugar por onde deve passear bastante. Com certeza, muita virtude.
Mas a minha reclamação vai mesmo para o poder público. Não há absolutamente nada que justifique um dano desse tipo nesse local permanecer indefinidamente. No Rio de Janeiro, furtar os óculos da estátua de Carlos Drummond de Andrade é quase um esporte municipal. Mas quantas vezes levam, quantas a prefeitura manda consertar, imediatamente. Aqui, pra variar, é o descalabro.
Quem dera fosse só a pichação! O centenário piso do pavilhão está desaparecendo. Por toda parte, um fedor de urina, ainda mais terrível por causa do calor. E cocô, meus amigos. Cocô humano. A praça sempre foi usada como banheiro, mas é intolerável que continue sendo. E ainda mais que, tendo sido, ninguém se importe em mandar limpar. Complete o cenário com a grama desaparecida em vários pontos, por excesso de pisoteio, de tal modo que as ondulações do terreno, que deveriam conferir um aspecto charmoso ao parque, estão em processo de erosão. E o cimento que calça as alamedas está cedendo em alguns pontos.
Se uma reforma custa caro - ainda que esse gasto seja absolutamente justificável e necessário -, uma limpeza e posterior vigilância, para impedir novas incursões dos mijões e cagões, já seria de grande valia. Mas, para isso, precisaríamos ter um prefeito, coisa que... Deixa pra lá.
E depois querem que esta cidade cagada seja subsede de Copa do Mundo. Bom, se for copa mundial de cocô à distância, talvez sejamos o endereço mais adequado.
Publicada originalmente no Arbítrio do Yúdice, em 17/05/2009
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2 comentários:
Odor de urina se deve em parte pela falta de banheiros públicos com condições mínimas de higiene, e em parte pela educação - já vi muitos pais ensinando filhos a urinar no primeiro canto (árvore, poste, muro, sarjeta) que visse como se isso fosse másculo! ¬¬
Mas o povo que freqüenta as praças não sabe nem está interessado na história dos coretos, das árvores, dos monumentos existentes; esses ideais copiados com propósito de "impacto" que ferem grande parte dos monumentos belenenses, representam o cotidiano de uma juventude sem cultura e sem amor à arte.
Deprimente.
Amanda,
Parece que somos minoria mesmo... Só nos resta espernear.
A respeito da nova geração de mijões das ruas, veja:
http://belenambulo.blogspot.com/2009/03/aprendendo-ser-cidadao.html
Abraço
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