O mundo inteiro já despertou para a importância da indústria do turismo. Há países que, como Cuba, tratam do tema com tamanha importância que os turistas são tratados melhor do que os próprios cidadãos. Claro que se trata de um exagero. Afinal, o melhor cartão postal de um país é seu próprio povo, saudável e feliz. O resto acontece naturalmente, pela ingerência da gente feliz do lugar. Pelo que se observa a caminho de Ajuruteua, um dos principais balneários do Estado do Pará, não é o caso.
A caminho de Bragança, nordeste do estado, o turista pode constatar o descaso de todas as esfera de poder e dos moradores do lugar. Como se não bastassem as rodovias mal sinalizadas e pouco fiscalizadas (há até posto de Polícia Rodoviária Estadual abandonado), o turista de primera viagem ao Pará vai se deparar, em uma eventual parada para um refrigerante, com uma rodoviária como a da foto abaixo.
Essa é a entrada da rodoviária de Capanema, às vésperas do veraneio paraense. O motorista terá uma certa dificuldade para entrar na estação, ora porque não há qualquer sinalização, ora porque a quantidade de buracos e lama é um desestímulo ao viajante. Ao procurar o acesso, o motorista-turista se deparará ainda com a seguinte imagem.
É isso mesmo o que você está vendo na foto da entrada da rodoviária de Capanema! Muito lixo espalhado por todos os cantos, habitat natural de um pássaro preto muito conhecido. O turista ficará entusiasmado com o cheiro de Capanema. Isso sem falar que, para usar o banheiro da rodoviária, paga-se R$1,80, pouco importando se aquele é um equipamento público. Ou seja, os banheiros já foram privatizados mas continuam do mesmo jeito.
Cerca de 70km mais de estrada, o entusiasmado turista chegará a Bragança, de onde terá acesso à estrada para a praia de Ajuruteua.
Sujeira, muita sujeira em meio ao favelão de construções de pau-a-pique, todas "temperando" a fabulosa costa atlântica com os dejetos de suas fossas feitas ali bem próximo da linha da maré alta. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente parece que nunca marcou presença por lá. Ano passado, em outro famoso baneário do estado, Salinópolis, o Poder Público até que tentou instalar banheiros químicos na praia do Atalaia, contudo, sem sucesso. Em Ajuruteua não houve esse desperdício de dinheiro público. A natureza se encarrega da missão.
Lixo em meio a um grande favelão é o cartão postal que a Administração Pública Municipal de Bragança mostra ao turista. Se for daqui mesmo, pode até ser que o veranista volte algum dia, se alguma coisa mudar. Mas se for de outro estado ou país, certamente não se atreverá.
Se imaginarmos que as férias escolares nem começaram, Ajuruteua pode ficar imersa na imundície em poucos dias. A outrora belíssima praia parece estar com seus dias de glória contados. Ajuruteua está abandonada à própria sorte e falta de empenho de seus administradores, comerciantes e moradores.
Entretanto, se o melhor cartão postal de um lugar é seu próprio povo, o de Ajuruteua, pelo que se pôde observar, está feliz e satisfeito com as belezas naturais que ajudou a transformar. A recepção e o atendimento deixam a desejar para o turista mais exigente.
Não sei se haverá propaganda de asfalto em estrada nesse mês de julho. Se houver, os automóveis serão os grandes beneficiados, por que parece que as belezas naturais dessa terra são seus menores patrimônios e os turistas não têm a menor importância. Inteligência? Onde estás que não te encontram?
É assim que o melhor de tudo pode estar reservado para a volta, dali mesmo da janela do carro.
o Aluguel de uma casa de pau-a-pique em Ajuruteua, por quinze dias, sem cama, fogão ou geladeira: até R$1.800,00;
o Diária em pousada de pau-a-pique, sem café da manhã: média de R$60,00;
o Coca-Cola de 2 litros: R$5,00;
o Cerveja: R$R$3,50;
o Garrafão de 20 litros de água mineral: R$7,00;
o Garrafa de 1 litro de água mineral: R$2,00.
o Número de estabelecimentos que atendem com cartão de crédito: quase nenhum.
Se é essa a infra-estrutura que Ajuruteua e o Estado do Pará oferecem ao turista ou até mesmo ao seu próprio cidadão, é melhor comprar uma passagem de avião para São Luis ou Fortaleza. Sai bem mais barato e divertido.
Publicada originalmente no Intimorato, em 29/06/2008
5 comentários:
Ei! Eu já ia dizer que o texto e as fotos são parecidos com os de uma postagem minha. He he he...
Wagner, passei por lá sexta-feira, e está tudo pior ainda. O mato cresceu e o lixo acumulou. Um ano depois!!!!!!
Ajuruteua? Não vou mais; de jeito e maneira. Está bem pior, também. O atendimento nos restaurantes e pousadas é péssimo. Parece até que se está pedindo favor. Ô gente ruim para ganhar dinheiro...
Aquilo acabou. Infelizmente, não tive coragem de tirar fotos do mercado de peixe de Bragança. Aquilo é uma pocilga.
As casas que fui ver na praia estão agora na faixa de 1800 reais. Isso por uma casa de pau podre e fedida.
Tem retardado mental cobrando 3000 reais de aluguel (mês de julho todo = 100 reais a diária) por uma casa de dois quartos, só porque tem duas camas, uma geladeira e um fogão!!!
Turismo no Pará? Por esse preço, mil vezes Fortaleza ou São Luis. E ainda sobra trôco.
Abraço
Ah, e obrigado pela reprodução.
Já tendo postado algumas vezes sobre a inexistência de infraestrutura de turismo no Estado, salvo um hotelzinho aqui, uma orlazinha acolá, nas cidades mais famosas, só posso ratificar a crítica.
Não conheço Ajuruteua. Nem vou, pelo que se constata.
Eu sempre falei da falta de estrutura para o turismo no Pará aos que estão próximos de mim. O potencial turístico de nossa região é muito bom, mas a falta de infraestrutura é um pecado mortal.
Estive, há cerca de dois anos atrás, em Lençóis (BA), para conhecer a Chapada Diamantina. A cidade é bem pequena, mas tem de tudo: bancos (vi o Banco do Brasil e Itaú), diversos tipos de restaurantes, várias companhias de turismo, passeios a qualquer hora, etc.
O hotel que fiquei é uma maravilha, e não é a única opção com a qualidade que tinha.
Aqui no Pará não vejo essa estrutura para oferecer aos turistas, o que é uma pena, pois creio que temos muitas belezas naturais que poderiam alavancar o turismo em nossa região, com todos os benefícios oriundos desse serviço.
Quando vou pra'quelas bandas, fico na casa do meu Tió, pescador que nasceu ali no campo do meio.
Fico titiando na ilharga duma rede, faço um kial, compro uns caragas, tia Maria faz uns avoados...
Levou algum pro mestre Tió, porque é preciso, não que ele me cobre, e deixo mais tanto, por lei! rsrsrs
Volto feliz, feliz...
Ps.: Ah, nem passo perto da dita praia de Ajuruteua
Prezados,
Concordo com todos.
Como um local tão abençoado pode ser tão subaproveitado? Pior: tão espoliado?
Também é lamentável constatar que o texto continua atual após um ano de publicado.
Abraços
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