sexta-feira, 3 de julho de 2009
Atalaia, a maior "beach parking" do mundo
Ao longo do tempo, Salinópolis tornou-se a Meca dos veranistas paraenses mais abastados. O balneário guarda uma peculiaridade em sua praia do Atalaia, sua principal e quase única atração: é ela a maior beach parking (praia estacionamento) do mundo. Areia é o que menos se vê por lá nessa época.
Há alguns anos, o insólito título pertencia a uma das praias da cidade de Malibu, na Califórnia. Recentemente, foi proibido o trânsito de veículos automotores nas praias daquela cidade norte-americana, deixando o triste recorde ao balneário paraense. Eles tomaram consciência lá. Mas nós cá...
O povo do Pará tem uma cultura estranha, que estraga o meio ambiente natural. As pessoas simplesmente não conseguem mais abandonar suas armaduras de aço. Elas se tornaram um símbolo de poder chinfrim, onde o jogo da sedução se resume no ver e ser visto, sendo este o fim último do veranista seduzido pela superficialidade e futilidade. Nesse sentido, Salinópolis, além o de maior estacionamento à beira mar do mundo, deveria guardar um outro título: o de maior passarela a céu aberto do planeta, onde o barato é ficar p'ra lá e p'ra cá desfilando os adornos corpóreos e tecnológicos; de dia na praia e à noite nas calçadas e em outros estacionamentos. Praias, praças e calçadões são apenas pontos de reuniões de tribos urbanas em busca de atenção, em vez de serem o centro das atenções. Aquilo pode ser tudo, menos lugar de contemplação das belezas naturais da região. Se tomarmos a palavra balneário em seu sentido etimológico, os verbos de ligação devem ser conjugados no tempo passado, ou referirem-se a períodos que não o mês de julho ou feriadões. Fora isso, o município é uma Belém mais suja e com menos roupa.
O mar é apenas um detalhe na moldura que adorna o dantesco afresco de insensatez na praia do Atalaia. Engarrafamentos intermináveis, falta de lugar na areia para caminhar, aparelhagens automotivas projetadas com o único intuito de chamar a atenção e lixo, muito lixo, dão a tônica do veraneio. Para complementar o corolário de agressões ao meio ambiente, a administração pública municipal, o governo do estado e o Ministério Público Federal reuniram forças para interditar os banheiros dos bares e substituí-los por quarenta banheiros químicos. Pergunta-se: depois disso, quem terá coragem de dar um mergulho?
Salinópolis perde seus encantos de roteiro turístico em determinadas épocas do ano. Não me atraem a hipótese de banho sólido, a contaminação da areia pelos mesmos sólidos e óleos combustíveis e o risco de morrer atropelado. Belém é a melhor atração nesses momentos.
Publicada originalmente no Intimorato, em 23/07/2007
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10 comentários:
Concordo plenamente com você. Belém não conseguiu dar aos nossos grandiosos emergentes uma palavra que a princípio é um pouco preconceituosa, mas falta berço para essa moçada do carro novo, da aparelhagem e do lixo interminável.
O carro poderia até ser uma vantagem no carregar das coisas, e dos detritos que produzimos. Poderíamos ir à praia, levar o que a necessidade nos obriga, e voltar com o lixo. Mas não. Insistimos em continuar a jogar as coisas pela janela, na areia, no chão, como se a natureza pudesse dar conta de tal absorção injuriosa.
Falta à Belém e a todos os paraense educação. Educação básica, moral, ética, e bons modos.
"Primeiro eu, o resto é que se dane".
Tiago Paolelli
eu adoro Salinas, entretanto não desta praia a qual citas no teu blog, mas sim a praia da corvina, onde a entrada de carros é restrita. (ou melhor não existe, devido o mangue que impede a passagem) é uma praia que é calma aglomeração.
um lugar bom de se ficar em Salinas é a vila de pescadores, por conta do aconchego, do ar interiorano de lá.
Sobre o comentário de que os paraenses são pessoas sem noção.
CONCORDO PLENAMENTE...
parabéns pelo post
Gisele Oliveira
@peppersgirl
Belenâmbulo,
Além de tudo, és também o Grilo Falante das nossas inconscientes classes, médias e altas, mas baixas também. Sou-lhe grato por isso.
Alguém tem que dizer e escrever isso. Que seja você, em nome próprio e de nós outros, que também pensamos como você.
O argumento vale para outras destruições materiais e espirituais se que se praticam por aqui no dia-a-dia, sorrateiramente às vezes, às escâncaras, outras vezes.
A afluência denotada pelos automóveis não esconde outra pobreza, a de espírito.
Aliás, penso mesmo que como é tarefa difícil vencer a pobreza material neste desigual país, temos que fazer um esforça para vencer pelo menos a pobreza de espírito.
Este post é antológico!
Pois é Wagner, é sempre assim, infelizmente.
Verão vai, verão vem e o paraense não se educa, nem amplia sua mente.
Bjss
É por isso que eu adoro minha casinha.
E morram todos que vão a praia.
Brilhante texto!!!
E eu, que me choquei quando ouvi de algumas pessoas no DETRAN, quando fui fazer prova: "paguei para passar porque queria dirigir ainda nas férias..."
As pessoas perdem o senso e otras cositas más por suas armaduras, e a alma...dura?
Eu adoro praia. Amo Salinas. E Salinas depende do clima que você está... clima romance, ir em baixa temporada. Cliam de badalação, por que não arriscar um julho?
Acho que é questão de clima... interior.
Saliunas em julho pe uma imensa balada. Resumindo é isso.
Ótimo texto.
Descrição perfeita do estado da Atalaia nessa época! Estive lá uma vez, num mês de julho, unicamente porque tinha a obrigação de fazer matéria, mas fiquei chocada, um nojo. Achei horrível aquele estacionamento de carros na areia, aquela sujeirada, aquela zoada medonha (por sinal, não sei quem inventou que lazer na praia tem que ter zoada de músicas altíssimntas, inda mais de mau gosto como tem sido). Mas enfim,a praia é bonita sim, ao natural claro, e tenho vontade de voltar lá num agosto ou setembro, quem sabe.
Prezados todos,
Não tenho mais nada a dizer. O texto do Fred Guerreiro é brilhante, e todos os comentários só vieram enriquecer o debate. Sinto-me privilegiado por isso ter acontecido aqui, na caixinha de comentários do Belenâmbulo.
Abraços
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