segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O sapateiro Osvaldo


Sempre que parava no sinal da Pedro Álvares Cabral com a Passagem São Benedito, próximo à ponte do Barreiro, eu ficava intrigado com a diversidade de serviços anunciados na fachada desse humilde estabelecimento. Estaria eu diante do "homem renascentista" do Barreiro? Sapateiro, cabeleireiro, técnico em eletrônica, e ainda, salvador de alcoólatras?
Finalmente hoje resolvi visitá-lo.
Encontrei o sapateiro Osvaldo, um senhor simpático, com seus sessenta e poucos anos, entretido na recuperação de dezenas de sandálias. Esclareci que não tenho problemas com a "mardita", mas que fiquei curioso com a sua estratégia de marketing inusitada. Entre um calçado e outro, foi-me contando um pouco de sua história, naquele ambiente incensado pelo cheiro agressivo de cola.
Há vinte anos parou de beber, após cerca de duas décadas e meia entregue ao vício. Desde então, evita o primeiro gole "só por hoje" todos os dias. Paradoxalmente, foi após essa importante decisão que seu casamento desandou. Atualmente, além de participar das reuniões dos Alcoólicos Anônimos nos altos do Terminal Rodoviário, também se dedica a arregimentar novos membros para o grupo. Segundo sua informação, muitas pessoas o procuram, movidas pela mesma curiosidade que me intrigava até então.

- E o senhor também corta cabelo e conserta TV e som?
- Não, não... o barbeiro não trabalha mais aqui. Tenho até de tirar esses anúncios. O rapaz que mexe com eletrônica... Deveria estar aí. Mas, sabe como é, né? Ele gosta de tomar umas... não quer ir comigo às reuniões do A.A.... estamos no meio do carnaval... Deve estar de ressaca. Tá vendo? A bebida acaba com a vida do cidadão!


Não é um "homem renascentista", mas é uma grande figura.

10 comentários:

Scylla Lage Neto disse...

Belo post!
Hiperrealismo + surrealismo = realidade
Valeu.

Anônimo disse...

Prezado Scylla,
Agradeço por mais uma visita e pelo comentário. Para mim, é um incentivo. Embora este blog seja pura curtição, há dias em que a inspiração simplesmente me abandona. Saber que tenho leitores fiéis, ainda que sejam apenas sete, faz-me não esmorecer.

Abraço

Carlos Barretto  disse...

No dia exato dos karapanãs, segundo minha ferramenta de auditagem, mandamos 12 leitores.
É possível que mais apareçam, não só por nossa referência mas pelo bom conteúdo de seu blog.
Alto astral!
Parabéns

Anônimo disse...

Muito bom!
Abs
Edyr

Anônimo disse...

Pois é, Carlos, tenho acompanhado as origens de meus visitantes pelo sitemeter. Só dá Blog Flanar na cabeça!

Prezado Edyr,
Muito honrado com sua visita e comentário. Seus livros estão na minha "fila de espera" particular. Vai demorar um pouco, porque na sua frente está o James Joyce, com o Ulisses. Ah... e eu não tenho jeito para ler mais de um por vez. Mas eu chego lá!

Abraços

Yúdice Andrade disse...

Rapaz, tu não tens medo de assalto mesmo, não? Fotografando no Barreiro? Essa tua câmera é uma sobrevivente!
Graças a Deus, porque assim podemos curtir postagens como esta.

Anônimo disse...

Tenho medo de assalto, sim! Talvez a ignorância é que me faça supostamente destemido. Mas se eu calcular demais os riscos, vou acabar fotografando só a Estação das Docas e o Mangal das Garças.

Abraço

Carlos Barretto  disse...

É isso aí. Para tanto, devemos levar uma camerazinha mais baratinha para estas aventuras.
Mas não devemos deixar de tentar.
Abs

Anônimo disse...

Minha câmera tem dois anos e meio de uso. Não foi muito cara, e pela quantidade de cenas e eventos registrados, já faz tempo que recuperei o investimento.
É claro que não gostaria de tê-la roubada numa dessas andanças, porém, se assim acontecer, ela partirá em paz, "no cumprimento do dever".

Abraço

Yúdice Andrade disse...

Verdade, meu amigo. É exatamente por causa da insegurança que ainda não registrei as tantas coisas belas que sei que existem na cidade, ao ar livre. Não tenho coragem de fotografar nem na Praça da República, a menos que consiga um grupo para me cercar na hora do clique.